A emoção prevaleceu na noite do dia 23/02, no auditório do Instituto Federal Catarinense (IFC) – Campus Camboriú. Afinal, formar a primeira turma de pós-graduação, em nível de especialização, em Treinador e Instrutor de cães-guia do Brasil não foi uma tarefa fácil. “Marcamos e estamos marcados pelo ineditismo do curso e seremos, para sempre, os pioneiros. Nós, cinco acadêmicos da primeira turma, recebemos o certificado para exercer o trabalho de proporcionar mais confiança e dignidade aos cidadãos da nossa sociedade”, declarou em seu discurso, a formada Maria Aparecida Zaché. “Fomos pioneiros em um projeto totalmente bancado pelo governo federal. Abraçamos a causa para que esse momento pudesse acontecer e agora reconhecemos o esforço de cada um. Agradecemos o apoio da SETEC/MEC, SNPD, Escola Helen Keller e famílias socializadoras pela parceria nessa trajetória”, completou o diretor-geral do IFC Camboriú, Rogério Luis Kerber.
Idealizadora do projeto e servidora aposentada, Márcia Santos de Souza, contou a trajetória de luta para construção do Centro de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães-guia. “Foi difícil, mas vocês são a prova de que conseguimos formar treinadores e instrutores de cães-guia. Esse é um projeto para gente, que gosta de gente e que gosta de bichos”, afirmou Márcia ao ressaltar o caráter inclusivo da instituição.
Na formatura, o Secretário Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Antonio José Ferreira, falou das dificuldades econômicas para manter o projeto e finalizar a construção dos outros seis Centros de Treinamento de Cães-guia, localizados nos Institutos Federais (IFs) de: Sergipe – Campus São Cristóvão, Amazonas – Campus Manaus, Ceará – Campus Limoeiro do Norte, Espírito Santos – Campus de Alegre, Goiano – Campus Urutaí e Sul de Minas – Campus Muzambinho. “Mesmo com as dificuldades, vamos sim finalizar a construção dos demais Centros. Estou muito honrado por ter contribuído com o projeto. Certamente, o Centro tornou o IFC uma instituição muito mais humana e inclusiva”, declarou.
O secretário aproveitou a ocasião para contar aos presentes sobre a premiação recebida pelo plano “Viver sem limite”, em um evento na Áustria. “Fomos premiados pelas boas práticas desenvolvidas para as pessoas com deficiência. Com certeza, o Centro de Formação de Treinadores e Instrutores de Cães-guia, que também pertence ao Viver sem Limite, contribuiu para essa conquista”, destacou Antonio José Ferreira.
Em seu discurso, a reitora do IFC, Sônia Regina de Souza Fernandes, afirmou a importância dos Institutos Federais serem considerados como bem público e não como políticas de governo. “O papel dos IFs é pensar no bem-estar da sociedade como um todo”, completou.
O ex-reitor do IFC, Francisco José Montório Sobral, e o reitor do IF Sergipe – Campus São Cristóvão, Ailton Ribeiro de Oliveira, destacaram o papel fundamental dos Ifs na inclusão social. “Além disso, nós estamos fazendo aqui algo inédito, que é construir uma ciência. A pós-graduação oportunizou a construção do saber de um grupo de docentes, juntamente com os seus alunos”, destacou o ex-reitor do IFC.
O papel das famílias socializadoras
Para falar sobre o que significa ser uma família socializadora, o professor do campus Camboriú, Paulo Fernando Kuss, relatou – emocionado – a experiência com o cão-guia Darwin. “Ser uma família socializadora não é uma tarefa fácil, mas é muito gratificante. Começamos a pensar nas dificuldades que uma pessoa com deficiência passa, mesmo com um cão-guia. Nós, como socializadores, também enfrentamos diversas situações constrangedoras ao tentar entrar em restaurantes, shoppings…mesmo com o conhecimento da Lei, ainda há dificuldades que precisamos superar”, salientou.
Paulo segurou o choro por alguns momentos ao falar de Darwin. A “bolinha de pelos” foi companheira do professor e da sua família por muito tempo antes de ser entregue para formação de duplas. “Nós torcemos muito para que o Darwin seja sempre um bom cão-guia e dê uma boa qualidade de vida para a pessoa que acompanhar”, falou emocionado.
A experiência do usuário de cão-guia
Felipe Cristiano da Silva foi um dos primeiros contemplados pelo Projeto e hoje anda na companhia de Thor. Acadêmico do curso de Pedagogia do IFC Camboriú, Felipe destaca a melhoria na qualidade de vida e mobilidade com o cão. “Tive a oportunidade de conviver e aprender muito com os formandos. Hoje agradeço a todos e digo que não vivemos mais um sonho impossível, mas uma realidade”, completou.
Para finalizar a cerimônia, Karen Aparecida Simas Resende, cantou uma música em homenagem aos cães-guia, em especial, ao Orfeu, seu companheiro de vida. “Hoje eu caminho com segurança, como antes de perder a visão. Vamos continuar nessa luta por mais direitos e dignidade para as pessoas com deficiência”, finalizou.
Sobre o Projeto
O Projeto Cães-guia pertence ao Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver sem Limite e tem o apoio da Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC/MEC), da Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência (SDH/SNPD) e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI/SECIS/CNPQ).
Confira aqui as fotos da formatura.
